Americanas é suspensa do Instituto Ethos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Americanas, uma das maiores varejistas do país, que entrou em recuperação judicial em 19 de janeiro, está suspensa do Instituto Ethos, voltado à disseminação dos conceitos de boas práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG) no meio empresarial.

A varejista havia se associado ao Ethos em 2017. É a 13ª companhia a ser suspensa nos 25 anos de história do instituto, depois que veio à tona o escândalo contábil de R$ 20 bilhões nos seus balanços financeiros.

A empresa foi notificada da suspensão nesta terça-feira (14). Procurada, a Americanas não respondeu até a publicação do texto.

O Ethos é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que conta com 460 grandes e médias companhias associadas, como Petrobras, Alcoa, Santander, Natura, Magazine Luiza, TIM e JBS. No rito da organização, a Americanas fica suspensa por seis meses, período em que pode apresentar suas justificativas para continuar integrando o instituto.

O conselho do Ehtos se reúne ao final deste período para avaliar as informações prestadas pela companhia. A partir daí, decide pela reintegração da varejista ao grupo ou sua expulsão.

“Já tivemos outros casos de suspensão e até de expulsão de empresas, envolvendo episódios de corrupção, trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil e crime ambiental”, disse à Folha o presidente do Ethos, Caio Magri.

Como exemplos, o sociólogo aponta a Operação Lava Jato da Polícia Federal, desencadeada em 2014, e o desastre ambiental de Mariana (MG), em 2015, o que levou inclusive à expulsão de uma das associadas, a mineradora Samarco.

“Mas nunca vimos um escândalo com esse perfil, desta magnitude.”

De acordo com Magri, depois que o caso veio à tona -em 11 de janeiro, o executivo Sergio Rial apresentou em fato relevante sua renúncia ao comando da Americanas, alegando a descoberta de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões-, o instituto procurou a empresa para que ela se justificasse.

“Nós solicitamos esclarecimentos sobre as ‘inconsistências contábeis’, mas não tivemos explicações convincentes até agora”, disse Magri. “Na verdade, a empresa foi muito sucinta nas suas respostas, o que acabou levando à suspensão da companhia”, afirmou.

O braço ‘G’ das práticas ESG prega que as empresas devem tratar com transparência as informações envolvendo todos os públicos com os quais se relaciona -funcionários, fornecedores, parceiros, consumidores, sociedade, acionistas minoritários, investidores, governos.

Mas com as informações divulgadas até o momento, os analistas que acompanham a Americanas apontam que empresa apresentou, ao longo dos últimos anos (sete, ao menos), resultados melhores do que aqueles que de fato foram registrados, o que valorizou o preço das suas ações e escondeu fragilidades do modelo de negócios.

Ao que tudo indica, afirma o sociólogo, a conduta da Americanas desrespeitou a Carta de Princípios do Ethos, que envolve valores como transparência, primazia da ética, integridade, confiança e diálogo com as partes interessadas.

No início deste ano, pouco antes do escândalo ser divulgado, a Americanas emitiu um comunicado afirmando ser uma “referência internacional de sustentabilidade” por fazer parte, pelo segundo ano consecutivo, do índice global Dow Jones Sustainability Index World, um dos mais prestigiados do setor.

“A Americanas S.A. também foi reconhecida por outros índices importantes, estando pela 9ª vez no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) da bolsa de valores brasileira, e está entre os líderes no programa de mudanças climáticas do Carbon Disclosure Project (CDP)”, informou a varejista no comunicado, com data de 5 de janeiro.

Dentro das práticas ESG, as empresas costumam dar preferência para o ‘E’ (do inglês Environmental, ou ambiental), diz Magri. “Ao reduzirem desperdícios ou investirem em tecnologias menos poluentes, elas se beneficiam financeiramente”, afirma.

“Um investimento no ‘S’, do social, lhes garante a reputação, embora não lhes dê retorno financeiro”, diz o presidente do Ethos. Já o investimento no ‘G’, da governança, está diretamente ligado à cultura da empresa, quais valores ela defende, afirma Magri. “A cultura de uma empresa é determinada pelo topo -como se comportam diretores, conselheiros, controladores. É a vontade deles que impera.”

A Americanas pertencia ao Novo Mercado da B3, criado para reunir as empresas com as melhores práticas de governança corporativa. Desde 20 de janeiro, porém, a varejista foi excluída de 14 índices da B3, entre eles o Ibovespa e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

Fonte: Yahoo Finanças

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