Amaro em recuperação extrajudicial: entenda o que aconteceu com a empresa e as diferenças para o caso Americanas

Marca nativa digital teve recuperação extrajudicial aceita pela Justiça. Entenda as diferenças entre o processo e a recuperação judicial da Americanas – e o que pode ter levado a empresa a esse ponto

A Amaro se tornou mais uma varejista a buscar alternativas para renegociar dívidas em 2023. A empresa fundada por Dominique Oliver anunciou que chegou a um acordo com seus principais credores e definiu um plano de reestruturação, com dívidas orçadas em R$ 244,6 milhões. A recuperação extrajudicial foi aceita pela Justiça na noite de terça-feira (28/3).

“Em um cenário de juros extremamente altos e retração de crédito, especialmente para o varejo, a Amaro protocolou um plano de Recuperação Extrajudicial como parte do processo de reestruturação do negócio. A empresa tem como objetivo preservar sua liquidez e adequar a sua estrutura de capital para fortalecer a operação”, diz a empresa, em comunicado.

A Amaro nasceu em 2012 como um e-commerce, e em 2015 iniciou sua trajetória pelo varejo físico, com as chamadas guide shops — o cliente podia ver os produtos, experimentar, comprar online e receber em casa. Ao longo do tempo, a empresa foi se expandindo. Em dezembro do ano passado, tinha 21 lojas físicas, sendo sete megastores de 1,5 mil metros quadrados. A essa altura, as unidades já permitiam compras dos itens expostos no espaço.

“Pessoas adoram comprar e levar na hora. Os clientes têm pouca paciência, principalmente fora de São Paulo. Quando o prazo de entrega é maior do que dois dias, então, é difícil justificar para o cliente que ele não vai receber o item na hora”, disse Oliver a PEGN, na ocasião. No ano passado, o varejo físico correspondia a 40% do faturamento anual da empresa.

O que é recuperação extrajudicial

Diferentemente do caso da Americanas, que trouxe à luz o tema da recuperação judicial no varejo, a recuperação extrajudicial é um estágio em que a própria Amaro apresentará propostas de negociação da dívida para credores e fornecedores.

Já na recuperação judicial, a ideia é tentar um acordo entre a empresa em crise e seus credores, mas sob supervisão jurídica. A empresa consegue um fôlego para arrumar a casa, buscar formas de sair da crise e evitar que a falência seja decretada.

No pedido de recuperação extrajudicial protocolado pela Amaro, R$ 151,8 milhões são atribuídos a dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões a fornecedores. O plano teve adesão de 41,63% dos credores conhecidos como quirografários — os que não possuem direito real de garantia. Com a homologação do plano, a empresa pediu que ações judiciais, como pedidos de falência ou despejo de lojas, sejam interrompidas.

Desafio da Amaro (e do varejo): capital de giro

Os motivos que levaram as duas varejistas para essa situação também são diferentes. Enquanto a Americanas teve como principal causa apontada para o rombo fiscal a contabilidade do chamado “risco sacado“, a Amaro precisou lidar com um desafio grande de capital de giro — inerente ao varejo físico.

De acordo com Adriano Gomes, professor da ESPM e consultor da Methode, a jornada da nativa digital do e-commerce para o físico trouxe um consumo de capital de giro que a varejista, até então, não tinha. “Precisa manter estoque, tem aluguel, IPTU, funcionários, é um consumo extraordinário de capital de giro. Diferentemente do custo de manutenção de um site”, diz.

Ele acredita que o acúmulo de dívidas da varejista não guarde semelhanças com o rombo contábil da Americanas. “Foi um estrangulamento financeiro, de capital de giro. Em 2021 ela [Amaro] já via o que estava acontecendo e foi em busca de novos investidores. Em 2022 deu exclusividade para um banco de investimento captar novos investidores, mas o mercado estava receoso”, diz.

No pedido de recuperação extrajudicial, a Amaro ainda disse que conseguiu duas linhas de crédito com o Itaú e Santander para manter o fôlego financeiro até o final da rodada. Gomes considera que essa postura proativa advoga a favor da Amaro, o que pode ter favorecido a adesão dos credores ao plano de recuperação extrajudicial.

A marca também dobrou a aposta no varejo físico em plena pandemia, com as megastores de 1,5 mil metros quadrados. O professor Jorge Duro, coordenador acadêmico da Escola de Negócios da PUC-Rio, diz que o varejo físico ainda colhe danos plantados ao longo da pandemia.

Na visão do especialista, a facilidade do e-commerce e os preços muitas vezes mais baixos do que os das lojas físicas acabam dando outro significado ao varejo de shopping center. “É uma tendência a loja virar apenas um ponto de experiência do produto, de experimentação, e não mais um local de compra. Precisa saber como fechar essa conta”, diz.

Duro ainda acredita que o cenário de juros elevados, mencionado pela própria Amaro, seja uma das principais causas da crise enfrentada pelo varejo — e que será preciso lidar com ela por, pelo menos, mais alguns meses.

“É um remédio amargo que vai penalizar quem está precisando de dinheiro e quem está devendo. Empresas vão sofrer e muito. [O juro alto] é o preço a pagar pela escassez de crédito. Os bancos estão temerosos, o risco faz aumentar o juro, e os empresários, sobretudo no varejo, precisam de crédito para sobreviver”, diz Duro.

Fonte: Pequenas Empresas Grandes Negócios

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