Ricardo Eletro ressurge com novo nome e sonho de abrir 50 lojas

Após pedido de recuperação judicial, varejista fechou 400 lojas e chegou a ter a falência decretada; sob a bandeira Nossa Eletro, empresa retoma expansão

A varejista Ricardo Eletro agora atende pelo nome Nossa Eletro. As duas primeiras unidades da nova bandeira foram inauguradas recentemente em Minas Gerais após a companhia conseguir reverter sua falência na justiça. O objetivo é que até o fim deste ano sejam entre 18 e 20 unidades abertas, chegando à marca de 50 lojas em 2024. O movimento se dá após a pulverização da antiga rede de eletrodomésticos que estava espalhada pelo país com mais de 400 pontos de venda e que, no auge, chegou a faturar cerca de 10 bilhões de reais anuais e a empregar 30 mil pessoas — hoje, são cerca de cem funcionários. “A gente está refundando a empresa. Já abrimos duas e vamos abrir mais três lojas neste mês de abril”, diz o CEO da empresa, Pedro Bianchi.  Todas as lojas previstas para 2023 serão em Minas Gerais.

A expansão da nova rede será suportada pelo desbloqueio de valores que haviam sido penhorados pela Justiça e por meio da venda de ativos. Bianchi reclama do encarecimento do crédito diante do alto patamar dos juros no país, com a Selic a 13,75% ao ano.  “Eu acho que o Banco Central está errando a mão na questão dos juros. Não tem motivo para a gente estar com os maiores juros do mundo. A inflação não é de demanda. Esses juros altos estão castigando muito as varejistas, que vivem do crédito”, diz. “O tema da [fraude contábil da] Americanas foi negativo para todos, porque hoje os bancos estão com medo de dar crédito para as varejistas. Ficou ruim para todo mundo”, lamenta, antes de dizer que torce pela recuperação da concorrente.

O executivo conta que a dívida da empresa está calculada atualmente em cerca de 3 bilhões de reais. Ele também está em negociação com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para quitar um passivo de mais de 1,2 bilhão de reais. “É uma negociação complexa, porque envolve o pagamento de dinheiro e ativos da empresa, mas eu quero quitar esses passivos todos. Não fui eu que fiz essa dívida, mas eu quero resolver isso”, afirma Bianchi, que entrou na operação após a compra da Máquina de Vendas pelo fundo de private equity Starboard, em 2019.

O executivo diz que depois do pedido de recuperação judicial da empresa, em 2020, começou a ser “bombardeado” com ações judiciais que atingiam a sua pessoa física, mas afirma que não pensa em desistir da operação “Eu tive que apertar muito o cinto, inclusive na minha pessoa física, tive que fazer vários ajustes na minha vida. Estou sofrendo um monte de processos trabalhistas que nem são de responsabilidade minha. Como é que eu, enquanto administrador, consigo ter cabeça e foco para resolver os problemas da empresa se eu estou sendo bombardeado na pessoa física também?” desabafa. “Mas eu sigo lutando. A empresa só vai falir se a administração desistir.”

A nova identidade, conta Bianchi, é uma tentativa de dar um ar mais “coletivo” para a marca. “A gente quer tirar essa imagem de que a empresa era de uma pessoa e dar esse ar coletivo”, diz ele. O principal motivo, no entanto, não seria esse.

A fundação da nova marca é uma oportunidade para se desvincular da imagem de seu antigo dono, o empresário Ricardo Nunes, que vendeu sua participação no antigo conglomerado em 2019. Fundador da Ricardo Eletro, Nunes chegou a ser condenado por corrupção ativa, em 2011, pelo pagamento de propina a um auditor da Receita Federal, e foi preso ao lado da filha, em 2020, sob a acusação de sonegação de 400 milhões de reais em impostos — ele passou um dia na prisão e foi solto após prestar depoimento. Em 2022, o Ministério Público de Minas Gerais fez outra denúncia por suspeita de sonegação de 86 milhões de reais. Hoje, o empresário dá cursos e palestras sobre gestão, marketing e vendas, e tem mais de 250 mil seguidores em seu perfil oficial no Instagram.

Fonte: Veja

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