Saraiva cumpre plano de recuperação, mas registra prejuízo de R$ 15 mi e tem só R$ 52 na conta

Empresa, que já foi a maior do setor de livrarias, roda hoje no vermelho e enfrenta um pedido de falência

A rede de livrarias Saraiva, que está em recuperação judicial desde 2018, vai ter de negociar o pagamento de uma dívida de R$ 241 mil com a desenvolvedora de sistemas Websoul, que na semana passada pediu a falência da livraria à Justiça. A dívida é relativa ao não pagamento de um débito referente a serviços prestados no passado, e não está sujeita à recuperação judicial.

O caso piora a situação financeira da rede que já foi a maior do setor e tem hoje uma operação que, mesmo com proteção contra a falência, roda no vermelho e registrou apenas R$ 52,65 no saldo bancário após uma devassa . A Saraiva terminou o primeiro trimestre do ano com prejuízo líquido de R$ 15,29 milhões. No período, a receita operacional líquida foi de R$ 16,93 milhões.

O balanço preliminar da empresa foi apresentado pelos advogados da Saraiva em 28 de abril à 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. Oficialmente, a apresentação de resultados da empresa, que tem capital aberto, está marcada para 15 de maio.

Apesar de operar no vermelho, a Saraiva tem cumprido seu atual plano de recuperação judicial, o que torna, ao menos por enquanto, improvável a decretação da falência, segundo pessoas familiarizadas com o caso.

Ainda assim, diz uma pessoa que acompanha a insolvência da Saraiva desde o início, a situação é preocupante porque forçará a rede de livrarias a negociar o pagamento e se explicar à Justiça.

Em seu pedido, formulado no dia 27 de abril junto à 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, a Websoul afirma que a decretação da falência é necessária porque a Saraiva não tem operação viável. A empresa de softwares explica que moveu uma ação em 2019 para cobrar da livraria o pagamento de R$ 380 mil.

O processo se arrastou e só teve julgamento na segunda instância em 2021, reajustando o montante devido para R$ 401 mil. As duas empresas, então, entraram em acordo. A Saraiva pagou R$ 375 mil em dez parcelas mensais de R$ 37,5 mil, mas deixou de quitar as parcelas restantes pelo menos desde janeiro deste ano. A Websoul, então, voltou à Justiça para pedir o bloqueio dos bens da Saraiva.

Em 14 de abril, a juíza Ana Lúcia Goldman, da 28ª Vara Cível, determinou o bloqueio de R$ 241.498,57, valor da dívida atualizada da Saraiva com a empresa de tecnologia. Três dias depois, porém, a Justiça só conseguiu encontrar nas contas da Saraiva R$ 52,65.

Na argumentação do pedido de falência, a Websoul diz que “está claro que uma empresa desse porte (Saraiva) não tem condições de se manter com um valor tão irrisório”.

Para a empresa, “não há dúvidas acerca do estado de insolvência da empresa Ré e sua incapacidade de manter suas atividades ante a atual situação financeira em que se encontra”.

Em 28 de abril, o pedido da Websoul foi remetido à 2ª Vara de Falências, a mesma em que tramita sua recuperação judicial. Em 2018, quando pediu proteção contra a falência, a empresa tinha R$ 675 em dívidas.

Pelo atual acordo com os credores, R$ 163 milhões do passivo da Saraiva foram convertidos em ações e R$ 300 milhões serão pagos apenas a partir de 2026. Com isso, a família Saraiva, que fundou o negócio e ainda o administra, perderia o controle da companhia.

Em nota, a Saraiva afirma que “foi acordado um parcelamento da dívida” com a Websoul e que as últimas parcelas ainda não foram pagas. “Ainda sobre o pedido, vale esclarecer que o mesmo se deu fora do processo de Recuperação Judicial (RJ), ou seja, de forma autônoma, e não tem relação com o referido processo ou com o adimplemento do plano de recuperação judicial, o qual vem sendo devidamente cumprido pela Saraiva.”

A Saraiva informa também que “o atraso no pagamento de fornecedores é uma questão pontual no âmbito pós concursal, ou seja, pós recuperação judicial”.

Fonte: O Globo

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