Segundo dados do novo relatório dos administradores judiciais, operações com risco sacado, base do rombo da varejista, somam R$ 16,1 bilhões
A dívida total da Americanas é de R$ 50,1 bilhões. Esse valor acrescenta aos R$ 42,5 bilhões divulgados em fevereiro, mais R$ 7,6 bilhões de débitos mantidos entre as empresas que fazem parte do grupo da companhia. Do montante de dívidas financeiras e com debêntures, cerca de 44% estão ligadas às chamadas operações de risco sacado (“forfait”), que estão no centro da polêmica que envolve a varejista. Elas deram origem ao rombo contábil anunciado em janeiro, à época estimado em R$ 20 bilhões.
Esses dados sobre as dívidas da empresa constam do segundo relatório produzido pelos Administradores Judiciais da recuperação judicial da Americanas, o escritório de advocacia Zveiter e a Preserva Ação. O documento foi apresentado na quarta-feira (3/5) à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
O risco sacado acontece quando o fornecedor de uma empresa (no caso, a varejista) antecipa junto a um banco o recebimento de uma quantia, um pagamento pela venda de algum produto ou serviço. Entre as grandes instituições financeiras nacionais, o maior valor das dívidas da Americanas está justamente relacionado a esse tipo de operação. Em muitos casos, elas representam mais de 84% e até quase 100% dos débitos.
As dívidas da Americanas com o Bradesco, por exemplo, chegam a R$ 5,1 bilhões, segundo o relatório dos administradores judiciais. Desse montante, R$ 4,3 bilhões, o equivalente a 84,3%, são de risco sacado. No caso do BTG, essas operações somam R$ 3,508 bilhões ou 99,7% do total de débitos de R$ 3,517 bilhões.
No caso do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, a relação é de R$ 2,526 bilhões de dívidas no total, sendo R$ 2,127 bilhões (84%) de risco sacado. No Itaú Unibanco, é de R$ 2,742 bilhões contra 2,703 bilhões (98%); no Safra, de R$ 2,526 bilhões e R$ 2,127 bilhões (84%); e no Santander, de R$ 3,6 bilhões e R$ 1,9 bilhão (52,7%). No geral, as operações de risco sacado da varejista alcançam R$ 16,1 bilhões.
De acordo com o primeiro relatório dos administradores judiciais, com 461 páginas e apresentado em março à CVM, as empresas responsáveis pela auditoria externa da Americanas, a PricewaterhouseCoopers (PwC) e, antes dela, a KPMG, não teriam sido informadas nem pelos bancos, nem pela Americanas a respeito dessas transações.
Em contrapartida, as instituições financeiras teriam notificado o Banco Central (BC) sobre a existência desses negócios. No primeiro relatório dos administradores, o Itaú Unibanco e o Santander foram citados como credores de operações de risco sacado com a Americanas, cujos valores emprestados teriam sido retificados e excluídos das informações financeiras enviadas às consultorias. Na ocasião, os dois bancos negaram qualquer tipo de problema em relação a esses débitos.
Clientes
O novo relatório da recuperação judicial mostra ainda que a Americanas fechou oito lojas entre fevereiro e março de 2023. Em dezembro – antes da crise, portanto –, ela tinha 49,1 milhões de clientes ativos e, no fim de março, esse número havia caído para 46,4 milhões.
Caixa
No fim do ano passado, o caixa da empresa era de R$ 2,2 milhões, ante R$ 961,9 milhões, em 31 de março. A soma disponível no caixa, saldo bancário, aplicações, títulos e valores mobiliários era de R$ 4,6 bilhões, em dezembro, e passou para R$ 1,3 bilhão, no fim do mês passado.
Entre as ações judiciais contra a varejista enumeradas no relatório, três delas correm em segredo de justiça. Duas são movidas pelo Banco Votorantim e uma pelo BTG.
Fonte: Metrópoles