A companhia tem registrado as menores tarifas nacionais em quase todos os meses desde junho de 2021
Mais agressiva na política de preços e voltando a investir em publicidade, a Latam vem ganhando mercado no país, após o fim do caos sanitário provocado pela pandemia e de sua recuperação judicial, encerrada em novembro do ano passado. A companhia tem registrado as menores tarifas nacionais em quase todos os meses desde junho de 2021.
A pandemia, que chegou ao país em fevereiro de 2020, deixou no chão, por meses a fio, boa parte da frota da companhia – quadro que afetou o setor aéreo como um todo, no Brasil e no mundo. Sem demanda, o grupo Latam, com sede no Chile, não teve fôlego para sustentar o negócio. Fez demissões, enxugou a estrutura e pediu proteção contra credores, carregando uma dívida de US$ 11 bilhões. Saiu da recuperação judicial em novembro do ano passado. A dívida era de US$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
O presidente da aérea no Brasil, Jerome Cadier, disse ao Valor que mesmo diante dos desafios da indústria, como alto preço do combustível e volatilidade do câmbio, a empresa reafirma o plano de aumentar a oferta de assentos entre 8% e 11% neste ano, em comparação ao ano passado. Em relação a 2019, quando a pandemia ainda não havia chegado ao Brasil, o aumento ficaria entre 9% e 12%. No ano passado todo, a oferta já havia ficado 1% acima de 2019.
“Foi um bom primeiro trimestre do ponto de vista de demanda e fomos até melhor do que esperávamos. E é importante reafirmar o guidance [projeção de oferta] para este ano, mesmo com tudo que tem acontecido”, disse o executivo. Globalmente, o grupo espera aumentar a oferta entre 20% e 24% na comparação com 2022 – a recuperação nos outros mercados não foi tão rápida quanto Brasil.
“Apesar da pandemia oficialmente ter acabado, a gente ainda sente os efeitos dela”, ponderou o executivo, em referência à operação internacional ainda enfraquecida. Não ajuda, por exemplo, o atraso na emissão de vistos para os Estados Unidos, destino preferido por muitos brasileiros que viajam ao exterior.
A Latam, com sede no Chile, obteve lucro líquido de US$ 121 milhões no primeiro trimestre, revertendo prejuízo de US$ 380 milhões de um ano antes. As receitas da somaram US$ 2,8 bilhões entre janeiro e março, alta de 43,2% sobre o mesmo período de 2022.
Com o caixa recuperado, a empresa passou a investir mais em publicidade. Fez parcerias com eventos como Rock in Rio e The Town (ambos da empresa Rock World). Investiu também na edição deste ano do programa de televisão Big Brother Brasil (BBB).
“A gente veio de um período com baixo investimento de marketing e não só pela pandemia. Antes mesmo a gente estava buscando equilíbrio e isso afetava o orçamento. Hoje, essa nossa fortaleza [o balanço do primeiro trimestre] permite a retomada desses investimentos”, disse.
A Latam foi líder no mercado doméstico em quase todos os meses do período de agosto de 2021 a março deste ano, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As exceções foram janeiro e dezembro de 2022, e janeiro de 2023. Em março, ficou com 37% da demanda total, seguida pela Gol, com 33,6%, e pela Azul, com 29%. Antes da pandemia a liderança era da Gol, que ainda não recuperou seu nível de oferta de 2019.
Já no lado da tarifa, também de acordo com a Anac, tem sido da Latam o menor preço praticado domesticamente em quase todos os meses desde junho de 2021 (exceções foram novembro e dezembro de 2022). Em março deste ano, a Latam teve um yield médio (o preço para voar um km) de R$ 0,4301, seguido pela Gol (R$ 0,4496) e Azul (R$ 0,6023).
O preço médio para se voar um km foi de R$ 0,4856 em fevereiro, alta de 19,9% em relação a igual mês de 2022 – os dados são corrigidos pelo IPCA (inflação oficial medida pelo IBGE) até fevereiro.
Cadier disse ainda que o governo federal tem caminhado na direção correta ao debater temas importantes ao setor como combustível e isenções. Uma das medidas em discussão é a isenção de PIS/Cofins sobre as passagens, que foi aprovada na Câmara e caminha agora ao Senado. Cadier observou que as projeções da empresa para este ano não levam em conta a isenção, que tende a afetar positivamente a receita. Globalmente, o grupo projeta uma receita entre US$ 11 bilhões e US$ 11,5 bilhões em 2023. “O impacto [total do PIS/Cofins] também depende de outra medida, que é sobre os combustíveis [uma MP manteve a isenção até 30 de junho]”, disse.
O executivo comentou ainda o Voa Brasil, programa criado pelo governo federal e que pretende oferecer passagens de R$ 200 a grupos como funcionários públicos e aposentados. O debate agora com o governo está na questão de como o programa será estruturado, onde as vendas vão ser feitas – se em uma plataforma pública ou nos sites das próprias aéreas – e como serão validados os usuários que têm direito ao benefício. “Espero que a gente possa avançar com o programa no segundo semestre, quando ele já deverá estar consolidado para então efetivarmos”, disse Cadier.
Fonte: Inteligência Financeira