Octavio Lopes afirma que pedido de renovação da concessão deverá ser feito até o fim de maio. Companhia tem 60 dias para apresentar plano para equacionar dívidas de R$ 11 bi
O presidente da Light, Octavio Lopes, disse que o pedido de recuperação judicial, aceito nesta segunda-feira pela Justiça do Rio de Janeiro, é o melhor caminho para garantir a sustentabilidade do grupo e da concessão. Ele disse que o elevado endividamento da distribuidora (Light Sesa) levou a esta alternativa e que a empresa tentou uma solução via negociação com credores.
A aprovação do pedido de recuperação foi antecipada pelo colunista do GLOBO, Lauro Jardim. Nesta segunda, as ações da empresa subiram 1,04%, a R$ 3,89, depois de terrem caido quase 18% na sexta-feira.
De acordo com Lopes, um pequeno grupo de credores não quis negociar, o que poderia trazer o caos ao abastecimento de energia. A empresa atende 11 milhões de clientes no Rio de Janeiro e Minas Gerais e sofre com furtos de energia numa escala elevada. Só no ano passado, a Light perdeu cerca de R$ 1 bilhão devido a conexões ilegais, a custos judiciais para cobrança e à inadimplência.
— Só restou o pedido de recuperação judicial como alternativa capaz de preservar a saúde financeira da empresa. Com isso, a execução das dívidas da Light S.A. (holding) fica preservada, permitindo que a geradora e a operadora fiquem adimplentes e mantenham os investimentos necessários para a continuidade da concessão — afirmou Lopes durante a apresentação de resultados da companhia nesta segunda.
Operação segue normal, diz CEO
Com o pedido de recuperação judicial aceito, a Light permanece operando dentro da normalidade, com qualidade de serviço e obrigações aos consumidores, garantiu Lopes. Mesmo com a possibilidade de credores questionarem na Justiça a decisão da companhia, o CEO da Light acredita que o pedido de recuperação judicial vai se sustentar e uma solução para a distribuidora (que tem dívidas de R$ 11 bilhões) será encontrada até o final do ano.
A empresa tem 60 dias para apresentar uma proposta aos credores, mas espera fazer isso antes desse prazo. Lopes disse que o pedido de renovação da concessão, com condições mais sustentáveis para companhia, deverá ser feito até o final de maio.
A legislação brasileira impede que concessionárias de energia elétrica peçam recuperação judicial. Por isso a empresa recorreu à estratégia de usar o mecanismo para a sua holding, a Light S.A.
Companhia quer antecipar renovação da concessão
Embora não haja compromisso de rever os termos concessão pelo Ministério das Minas e Energia e pela Agência Nacional de energia Elétrica (Aneel), órgão regulador, o CEO da Light acredita que haverá êxito. A concessão vence em 2026, mas após o pedido de revisão o regulador e o governo terão 18 meses para se manifestar, prazo que vai até novembro de 2024.
— Não temos compromisso do poder concedente em relação à antecipação da renovação, mas acreditamos que ela faz sentido, já que houve outros casos desse tipo. Vamos manifestar interesse em renovar a concessão em termos mais sustentáveis para a companhia e o poder concedente tem 18 meses para se manifestar — disse Lopes, enfatizando que a Light está adimplente e oferecendo serviços de qualidade, diferente de outros casos de reestruturação no setor.
O diretor financeiro da empresa, Eduardo Gotilla, disse que as perdas com furto de energia vêm se deteriorando nos últimos dez anos. No primeiro trimestre deste ano, essas perdas tiveram um impacto de R$ 582 milhões no chamado Ebitda da companhia (ou lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização), ficando 22 pontos percentuais acima do índice de perdas estabelecido pela Aneel.
O Ebitda da companhia, no primeio trimestre deste ano, atingiu R$ 344,3 milhões, alta de 45,5% em relaçaõ ao mesmo período do ano passado.
— Realizamos reduções significativas de atividades com retorno no médio e longo prazo, como blindagem de redes, e descontinuamos aquelas atividades com consumo alto de caixa e resultados limitados. Acrescentamos parâmetros como a probabilidade de judicialização e perspectiva de arrecadação por classe e região para determinar a efetividade das normalizações com cobrança retroativa — afirmou
No primeiro trimestre deste ano, a Light teve lucro de R$ 107, 1 milhões, uma melhora de R$ 213,2 milhões em relação ao mesmo período do ano passado, quando registrou prejuízo de R$ 106 milhões.
A distribuidora devolveu R$ 455,5 milhões aos consumidores via tarifa no período, e compensou só R$163,1 milhões de créditos de PIS/COFINS. Essa diferença representou uma queima de caixa de R$ 292,4 milhões.