A possibilidade de venda de uma fatia ou controle da petroquímica Braskem voltou aos holofotes após recente oferta feita pela gestora americana Apollo, em conjunto com a estatal árabe Adnoc. A empresa já recebeu diversas propostas nos últimos anos, mas nenhuma foi para a frente. O controle hoje pertence à Novonor (ex-Odebrecht). A Petrobras é sócia e pode exercer o direito de preferência em caso de venda de participação acionária. Entenda a importância da companhia e o que está em jogo.
O que aconteceu
A Braskem recebeu uma oferta de até R$ 37,5 bilhões pela totalidade da companhia. A proposta foi recebida pela Novonor, que a recusou. Quem fez a oferta foi a Adnoc, empresa controlada pelo governo de Abu Dhabi, junto com o fundo americano Apollo. Pelo oferecido, cada ação seria vendida por até R$ 47. Mas os acionistas recusaram a proposta porque consideraram que as condições não eram ideais.
Desde o início da movimentação, a Novonor não aprovou nenhuma proposta. A controladora da Braskem afirmou que estava avaliando a oferta e que qualquer acordo dependia também de negociação com a Petrobras. A estatal disse não ter sido envolvida nas conversas.
Petrobras diz que não há negociação em curso sobre Braskem. A estatal afirmou que não está conduzindo nenhuma estruturação de operação de venda no mercado privado envolvendo sua participação na petroquímica. O comunicado foi feito após reportagem da “Folha de S. Paulo” indicar que a petroleira avalia exercer o direito de preferência para comprar o controle da petroquímica, seguindo orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ampliar o comando sobre empresas estratégicas.
Qual é a importância da Braskem
Atualmente, a Braskem está avaliada na Bolsa em R$ 18,98 bilhões, segundo fechamento do dia 17. O valor máximo histórico foi de R$ 53,89 bilhões, alcançado em setembro de 2021, de acordo com a Trademap.. Quando a notícia da proposta de compra foi divulgada no dia 5 de maio, a ação da petroquímica disparou 41,52%, saltando de R$ 19 para R$ 27,20.
A Braskem é, hoje, a maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas e a maior produtora de polipropileno nos Estados Unidos. Suas matérias-primas são usadas em diversas indústrias, do agronegócio a automóveis, tintas e eletrodomésticos.
A Petrobras detém 47% do capital votante da Braskem e 36,1% do capital total. A Novonor, antiga Odebrecht, é a maior acionista. Ela controla 50,1% do capital social votante e 38,3% do capital total. Na prática, a Braskem é administrada por um acordo entre esses dois grandes acionistas.
A venda da Braskem é considerada a grande cartada da Novonor, companhia em recuperação judicial, para sair da crise. No mercado, já se estimou que a venda da Braskem pode movimentar cerca de R$ 70 bilhões, o que pode ajudar a ex-Odebrecht na sua reestruturação.
A empresa conta com 40 unidades industriais no mundo. Dessas, 28 estão no Brasil, nos estados de Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A receita líquida da Braskem no 1º trimestre somou R$ 19,45 bilhões. O lucro líquido sofreu um tombo de 95% na comparação anual, recuando para R$ 184 milhões.
A Petrobras pode barrar a negociação?
O governo Lula não costuma compactuar com privatizações, e isso poderia ser um entrave para a venda. “Se o governo ‘bater o pé’ de que não quer vender a Braskem, ele pode sim barrar a venda que está sendo ventilada”, diz André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
Governo demonstrou satisfação por interesse de estrangeiros. A informação é da coluna Painel SA da “Folha de S. Paulo”, do dia 10 de maio. Os árabes teriam se mostrado dispostos a arcar com prejuízos ambientais gerados pela Braskem no passado.
O Ministério de Minas e Energia também pode ter fator decisivo numa negociação. De acordo com informações da coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, o Ministério não tem interesse em perder sua influência no setor petroquímico.
A Braskem se beneficiaria de uma venda vantajosa. Isso porque o Bradesco, Santander, BB, Itaú e BNDES possuem pouco mais de R$ 14 bilhões em dívidas da Novonor e a Braskem é a garantia a esses credores.
Braskem é cobiçada
Não é a primeira vez que a Braskem recebe uma proposta. “As conversas para venda da Braskem já vêm desde antes da pandemia. Um exemplo são as conversas com a empresa LyondellBasell, que desistiu de comprar a Braskem em 2019, e desde lá a empresa ainda é alvo de aquisição”, diz Fernandes. Para o analista, o interesse da Adnoc pode impulsionar outros interessados a fazerem ofertas.
Em 2022, a Novonor já havia sugerido querer vender sua participação na Braskem. Antes disso, em maio do mesmo ano, durante a gestão Bolsonaro, a Petrobras ainda afirmava interesse em vender sua parcela de ações.
Em março de 2023, outra proposta, da J&F Investimentos, holding dos irmãos Batista, também foi recusada. A informação foi publicada pelo jornalista Lauro Jardim.
Histórico da Braskem
O governo iniciou um projeto de privatização do setor petroquímico em 1992. Nesse período, a Odebrecht criou a OPP Petroquímica.
Em 2002, nasceu a Braskem, a partir da Trikem, antiga Salgema, e da integração de diversas empresas. A empresa foi se consolidando como uma das maiores do setor por meio de aquisições.
A ligação entre a Braskem e a Petrobras é antiga. Em 2005, a Petrobras e a Braskem firmaram uma parceira para a construção de uma fábrica em SP. Em 2007, a Petrobras e seu braço químico, Petroquisa, se aproximaram Braskem. A Petrobras começou com uma participação acionária pequena na Braskem, e foi aumentando aos poucos até chegar ao quadro acionário atual.
Dano ambiental em Maceió e Lava Jato
A empresa se envolveu em um dano ambiental em Alagoas. Em 2018, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou um relatório informando que os anos de extração de sal-gema feita pela Braskem foi a principal causa do afundamento de cinco bairros residenciais de Maceió, e imóveis tiveram que ser esvaziados por orientação da Defesa Civil. Em abril, a Justiça determinou bloqueio de R$ 1 bilhão da petroquímica para garantir o pagamento de indenização ao estado de Alagoas pelos prejuízos gerados.
A antiga Odebrecht foi uma das principais empresas envolvidas no escândalo da Operação Lava Jato. Em 2016, a então Odebrecht e a Braskem foram obrigadas a pagar R$ 7 bilhões pela Lava Jato.
Em 2020, a Odebrecht virou a Novonor. A mudança foi parte de uma reformulação da imagem da empresa, mas o controle acionário da Braskem continuou o mesmo.
Fonte: UOL Economia