A baixa produtividade das safras causadas pela estiagem e por pragas contribuíram para o endividamento da empresa. Além disso, invasões às propriedades do Grupo Konageski causaram ainda mais prejuízos
Com passagens pelos municípios de Diamantino, Poxoréu e Primavera do Leste, o Grupo Konageski teve seu pedido de recuperação judicial deferido pelo juiz Renan Carlos Leão Pereira do Nascimento, da 4ª Vara Cível de Rondonópolis. Formado pelos produtores rurais Cassemiro Konageski (pai), Marcelo André Konageski (filho), Jessica Carolina Konageski (filha), o grupo que cultiva milho e soja teve seu pedido de recuperação judicial aceito para negociar um passivo de mais de R$ 45 milhões.
“O produtor rural tem sua empresa a céu aberto, à mercê de intempéries climáticas, surgimento de pragas e doenças a qual não tem controle e que afetam diretamente seu negócio, e nesse caso, até a ação ilegal de invasão de terras afetaram as finanças do grupo. A parte econômico-financeira também foi afetada pelo alto custo para produzir e os altos juros para financiar a produção, fatos que contribuíram para o endividamento e consequentemente a necessidade de uma recuperação judicial”, ponderou.
No pedido o grupo revelou que pretende negociar o passivo junto aos credores e reduzir o pagamento de juros, o que possibilitará o crescimento da empresa, a manutenção dos empregos existentes e a geração de novas vagas de trabalho. “Uma atividade praticada há quase quatro décadas já provou que possui viabilidade econômica, e com a recuperação judicial será possível recuperar a saúde financeira, e capaz de manter empregos e continuar a gerar renda na região”, defendeu Noíse.
“Norteada pelo princípio maioral da preservação da empresa economicamente viável, onde o valor primordial a que se deve dar guarida é o interesse da ordem econômica geral, sobreposto aos interesses particulares do próprio empresário ou de seus credores. Por todo o exposto, e pelo forte indício do comprometimento dos requerentes e do interesse na preservação de seus negócios, defiro o processamento da recuperação judicial do Grupo Konageski”.
Com o deferimento do pedido, deverão os devedores apresentar, em 60 (sessenta) dias, um plano de recuperação judicial único, sob pena de convolação em falência.
Histórico e crise
Natural do Rio Grande do Sul, Cassemiro Konageski veio para Mato Grosso em 1986, quando arrendou 400 hectares de terra em Diamantino. Mais tarde se comprou 618 hectares em Primavera do Leste. Já em 1993 entrou para o ramo de lacticínios, mas no ano seguinte, com a implementação do Plano Real, a implantação da política de abertura comercial, o valor do leite e seus derivados despencaram abruptamente, fazendo com que o os produtos desse setor, fabricados no Brasil, perdessem a competitividade no mercado interno.
Diante de todo o cenário financeiro caótico instalado no país, em 1998, já economicamente sem saída, o Grupo decidiu entregar uma parte, de 90 hectares, da Fazenda Ilha Grande, para conseguir quitar três anos de arrendamentos atrasados. Em 2000, vendeu a fazenda Daniela I para pagar o financiamento da compra do gado leiteiro no Banco Bradesco, e a fazenda Daniela II para pagar a Cooperativa de Crédito Primacredi.
Em 2002, sem qualquer previsão de melhora no cenário e de mãos atadas pela ausência de crédito no mercado, o Grupo entendeu que a única saída era vender parte da fazenda Ilha Grande.
Vislumbrando voltar a crescer, em 2003 o Grupo arrendou uma área de cerca 550 hectares em Poxoréo. As safras que eram a esperança foram substancialmente afetadas pela nova doença que foi detectado na época, a Ferrugem Asiática.
Com os altos financiamentos contraídos para aquisição dos veículos e as sequentes safras ruins, os produtores se viram na necessidade de renegociar, ano a ano, todos os contratos dos equipamentos adquiridos, gerando uma escassez de crédito
Porém dois dias após assinar o contrato houve a maior invasão de terra da história do município de Primavera do Leste.
Já em 2016, quando ainda buscavam recuperar os danos das safras anteriores e conseguir cumprir com as dívidas que vinham se arrastando há anos, o Grupo precisou enfrentar a pior estiagem da história do milho safrinha no Mato Grosso.
Como fator determinante para atual situação do Grupo, o aumento desordenado do valor dos insumos, O glifosato por exemplo custava de R$ 24 foi para mais de R$ 100 por kg, enquanto o cloreto de potássio.
Pouco tempo depois, em 2020, ainda tentando recuperar os danos das safras passadas e amenizar as dívidas que vinham se arrastando ao longo dos anos, o Grupo Konageski amargou mais um prejuízo impactante com a incidência de uma severa doença na plantação de feijão.
Se não bastasse todo esse cenário, o Grupo perdeu significativa produtividade com o excesso de chuvas na colheita da soja no ano seguinte (safra 20/21). Veja abaixo como ficou boa parte da lavoura, que foi afetada pelas chuvas.
O cenário que vem se tornando a realidade do Grupo Konageski demonstra a fragilidade e as diversas variáveis que compõem a atividade agrícola, com a dependência do clima, sendo que tanto a falta quando o excesso de chuva influencia negativamente, além da dependência dos mercados externos e da cotação do dólar.
Durante a safrinha de milho de 2022 mais uma severa estiagem assolou a região de plantio das áreas do Grupo (ANEXO 04). Com a pouca chuva a lavoura acaba por não desenvolver como o previsto, fazendo despencar a produtividade.
Para ilustrar a questão, é preciso observar que, em condições normais, a expetativa de produção era 120 a 130 sacas por hectares, tendo como custo direto aproximadamente 75 sacas por hectare. Assim, em condições favoráveis, o Grupo teria um lucro de aproximadamente 45 a 55 sacas por hectare
Fonte: Circuito Mato Grosso