Um grupo de debenturistas da Light, que possui R$ 5 bilhões de papéis emitidos pela empresa de energia, escolheu a empresa BeeCap como assessor financeiro para renegociar a dívida com a companhia, apurou o Pipeline.
A BeeCap tem como um dos sócios Cláudio Brandão, que trabalhou por mais de três décadas na Energisa até abril de 2020, e esteve à frente da empresa quando ela assumiu as oito concessionárias do Grupo Rede. A BeeCap ainda assessorou a Energisa na estruturação de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
Procurada, a BeeCap confirmou que foi escolhida pelo grupo, mas esclareceu que a contratação ainda precisa ser aprovada pelas assembleias gerais de debenturistas marcadas para o início de maio.
O caso do Grupo Rede tem sido usado por pessoas próximas à Light como jurisprudência para um pedido de recuperação judicial da holding que estenda a proteção à distribuidora de energia. No entanto, para fontes ligadas aos credores, é justamente o oposto, com o caso servindo de indicação de que um pedido nessa linha ensejaria a retomada da concessão pela Agência Nacional de Energia Elétrica.
O Grupo Rede entrou em recuperação judicial em dezembro de 2012, antes da Lei 12.767, que proíbe as concessionárias de energia de pedir recuperação judicial ou extrajudicial. A solicitação foi feita pela holding e a Aneel decretou intervenção em oito distribuidoras do grupo, para garantir a manutenção dos serviços prestados à população. A única distribuidora do grupo que ficou fora da intervenção é foi a Celpa, adquirida pela Equatorial Energia.
No plano de recuperação judicial da holding do Rede, aprovado em 2013, a Energisa propôs assumir o controle das oito distribuidoras da empresa e as dívidas com credores, além de um investimento inicial de R$ 1,1 bilhão.
Antes da transferência de controle para a Energisa, as distribuidoras que pertenciam ao Rede tinham dívidas da ordem de R$ 3,9 bilhões. Essas companhias receberam aportes de capital de cerca de R$ 1,2 bilhão e refinanciaram as dívidas, reduzindo o endividamento para aproximadamente R$ 2,4 bilhões em dezembro de 2015.
Os credores argumentam que, no caso de uma intervenção pela Aneel, haveria interessados em assumir a concessão, como aconteceu com as concessionárias do Grupo Rede. Há pelo menos dois grupos de energia estudando o ativo, segundo fontes.
No início de abril, a Light recorreu à Justiça para tentar uma mediação da negociação com os credores. A 3ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu medida cautelar permitindo a suspensão da cobrança e do vencimento antecipado de de cerca de R$ 11,1 bilhões em obrigações financeiras da companhia pelo prazo de 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período.
Os credores recorreram, mas o desembargador José Carlos Paes negou o pedido para suspender a decisão. Os credores recorreram novamente e aguardam decisão da Justiça.
Os debenturistas da Light defendem que um standstill deve ser negociado de forma voluntária e consensual entre as partes. A Light tem sinalizado que pretende reduzir o valor de R$ 11 bilhões da dívida, implicando num deságio para os credores.
Até o momento, não foi marcada nenhuma reunião da Light com os credores no âmbito do processo de mediação judicial. Enquanto isso, a Light negocia a renovação da concessão da distribuidora Light Sesa, principal subsidiária da empresa, que vence em junho de 2026 com a Aneel.
Fonte: Pipeline Valor Econômico