Protegida dos credores, Oi encolhe e foca em banda larga

As dívidas incluídas na segunda recuperação judicial, aceita pela Justiça em 16 de março, somam R$ 43,7 bilhões

Às voltas com uma segunda recuperação judicial , a Oi passa por um reestruturação cujo objetivo é reduzir o endividamento financeiro e também readequar o tamanho da operação e a geração de receita. O modelo é ter uma companhia com menos ativos, com foco na banda larga via fibra óptica e nos serviços corporativos.

As dívidas incluídas na segunda recuperação judicial, aceita pela Justiça em 16 de março, somam R$ 43,7 bilhões, contra R$ 65,3 bilhões do primeiro processo, encerrado em dezembro de 2022.

Se antes de se vender sua operação de telefonia móvel, em 2022, a receita líquida da Oi chegou a superar R$ 28 bilhões, agora o indicador ronda o patamar de R$ 10 bilhões. A força de trabalho também diminuiu à medida em que a empresa alienou ativos (torres de telefonia, data centers, rede de fibra óptica) e desistiu de competir em alguns mercados (TV por satélite).

As dívidas incluídas na segunda recuperação judicial, aceita pela Justiça em 16 de março, somam R$ 43,7 bilhões

De acordo com dados reportados pela Oi à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a operadora tinha pouco mais de 58 mil colaboradores diretos no fim de 2019. Em 31 dezembro de 2021, esse total havia encolhido para 38,6 mil. Já na decisão que deferiu a segunda recuperação da Oi, o juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, cita laudo técnico que contabiliza mais de 35 mil empregados diretos.

Nos últimos anos, a operadora vem enfatizando nas divulgações de resultados a redução de despesas operacionais e custos de pessoal, na esteira da simplificação da estrutura da Oi, para torná-la uma empresa mais leve e eficiente. “Ela [a Oi] simplesmente não tem alternativa”, opina um analista do mercado que prefere não ter seu nome citado. “Operar ‘asset-light’ [com menos ativos], com pouco capex [investimento], é o que cabe para a empresa agora.”

Como parte de um acréscimo ao seu primeiro plano de recuperação judicial aprovado por credores em setembro de 2020, a Oi se desfez de data centers, torres de telefonia fixa e de sua participação na empresa de rede neutra V.tal, entre outros ativos. “Muito do que eles fizeram [em termos de redução de custos] também tem a ver com a venda de ativos, então seria natural a redução automática dos custos”, diz o especialista.

Menor, a operadora concentra seus esforços no mercado de banda larga via fibra óptica. No fim de janeiro, tinha 4,27 milhões de clientes atendidos por meio dessa tecnologia – quase quatro vezes mais do que no mesmo mês de 2020. Além de investir pesadamente nos serviços de FTTH (fibra óptica até a casa do cliente), a Oi tenta diversificar seu faturamento. Braço da operadora para o segmento corporativo, a Oi Soluções respondeu por R$ 2 bilhões em receita líquida entre janeiro e setembro de 2022. O montante é 4,8% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.

Fonte próxima à empresa que acompanha o novo processo de recuperação judicial frisa, no entanto, que para se manter viável a Oi terá de equacionar tanto a questão da sua dívida financeira como a das obrigações decorrentes da concessão de telefonia fixa. A dívida da Oi com instituições financeiras soma cerca de R$ 29 bilhões.

Em agosto do ano passado, a Oi chegou a anexar um laudo-econômico financeiro elaborado pela Licks Associados que comprovaria sua capacidade de cumprir os compromissos financeiros assumidos pelos próximos três anos. Meses depois, em dezembro de 2022, terminou o primeiro processo de recuperação judicial da Oi.

Segundo a fonte que segue de perto os desdobramentos da nova recuperação, dois fatores reduziram em cerca de R$ 2,5 bilhões o caixa da empresa após a divulgação do laudo. Um deles foi a retenção de R$ 1,44 bilhão pelas compradoras da Oi Móvel, que arremataram os ativos por R$ 16,5 bilhões. A retenção de parte dos recursos por Claro, TIM e Telefônica tinha por objetivo compensar possíveis ajustes no valor final da transação. O segundo complicador foi a decisão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em fevereiro, de liberar a venda de torres de telefonia fixa da Oi mas determinar que o dinheiro permaneça retido até que o Tribunal de Contas da União (TCU) estabeleça como os recursos podem ser gastos.

A migração da Oi de um regime de concessão do serviço de telefonia fixa para outro de autorização, com menos obrigações regulatórias, tem o potencial de gerar economia “brutal” para a companhia, concorda o analista do mercado de telecomunicações ouvido pelo Valor. Só que a Anatel considera que o valor a ser desembolsado pela Oi, em investimentos, pela migração seria de R$ 12 bilhões. A operadora e a agência reguladora travam uma disputa arbitral acerca do tema.

Questionada pelo Valor, a Oi informa que seu processo de recuperação judicial “tem como foco a equalização de sua estrutura de capital visando a renegociação de suas dívidas financeiras e passivos onerosos de longo prazo”. A operadora frisou ainda que as iniciativas estratégicas de seu plano de transformação, visam “a construção de uma empresa mais leve e sustentável.”

Fonte: Inteligência Financeira

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